quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Padre surpreende noivos surdos e celebra casamento em Libras, em PE: 'Reflexão para a sociedade'

 

Casamento foi realizado em Lajedo, no Agreste de Pernambuco. Noiva definiu o ato do sacerdote como 'acolhedor e respeitoso'. Padre contou ao G1 que foi evangelizado por um surdo.

O dia 10 de janeiro de 2021 ficou marcado na vida dos recém-casados Adrielly Monteiro e Adalberto Ferreira. Esta foi a segunda data escolhida para o casamento, já que a cerimônia precisou ser adiada devido à pandemia do coronavírus. No matrimônio, o casal, que é surdo, teve uma surpresa: o padre Aluizio Ricardo Aleixo fez a celebração na Língua Brasileira de Sinais (Libras).

"Esse gesto representou uma riquíssima oportunidade de trazer a reflexão para a sociedade para a importância de as pessoas aprenderem a Libras, inclusive os padres", destacou a noiva.

Residente em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, o sacerdote, que é diretor espiritual no seminário Nossa Senhora das Dores, revelou ao G1 como aprendeu Libras. "Fui evangelizado por um surdo, que me contou a parábola da ovelha perdida", disse.

Na parábola, o pastor sai à procura de uma ovelha e, quando a encontra, a chama pelo nome. "Nessa hora, ele colocou o nome dele. Vendo-a machucada, o pastor estende a mão e a ovelha responde ao sinal com mais força. Ele me fez a pergunta: 'Por que?', mas ele mesmo respondeu: 'Porque a ovelha era surda e precisava que o pastor fizesse um sinal'. Entendi naquele momento que fui chamado a realizar também essa missão", explicou o padre, que tem 14 anos de sacerdócio.

Adrielly é professora de Libras e o marido dela, Adalberto, além de também ser professor de Libras, é tradutor de sinais internacionais e trabalha como assistente de suprimentos e materiais em um hospital. Eles estão juntos há oito anos, sendo sete de namoro e um de noivado. O matrimônio foi realizado em Lajedo, no Agreste.

Para o casamento, Adrielly e Adalberto convidaram dois profissionais intérpretes de Libras, mas foram surpreendidos ao verem que o padre Aluizio falou em português e Libras de forma simultânea. "Ficamos muito felizes, é claro [...]. Esse sinal foi acolhedor e respeitoso para com a gente e os nossos convidados surdos, pois a Libras é a nossa primeira língua", ressaltou a noiva.

"Infelizmente a grande maioria dos religiosos não sabem se comunicar com as pessoas surdas, criando na igreja um ambiente não acessível. Ficamos muito emocionados", Adrielly Monteiro.

Sobre o casamento, o padre Aluizio afirmou que a experiência de celebrar ao matrimônio de Adrielly e Adalberto foi muito boa. "Cada matrimônio é único. Mas dos surdos e, em especial, de Adrielly e Adalberto, ficou marcado porque percebi a atenção e participação de todos surdos e ouvintes. A participação da pessoa com deficiência na vida da Igreja é necessário e importante", pontuou.

Ao G1, a professora contou que tanto ela como Adalberto nasceram ouvintes, mas ficaram surdos em decorrência da meningite. "No advento da infecção pelo vírus, Adalberto tinha 2 anos e eu 8 meses", completou Adrielly. Quem registrou todos os momentos da celebração foi o fotógrafo Djeison Zennon. Ele contou que este foi o primeiro casamento em Libras que ele fotografou ao lado da esposa, a também fotógrafa Penha Ferreira.

"No início, achamos que teríamos dificuldades porque não sabíamos nada de Libras. Na reunião que tivemos com a Adrielly antes do casamento, veio a mãe e uma amiga dela para nos ajudar a entender as dúvidas dela, e também pra passar as nossas explicações. No dia do ensaio tudo aconteceu muito naturalmente. Como Penha sempre vai comigo, foi fácil pois a gente mostrava pra eles como eram as poses, e eles são excelentes observadores, pegavam muito rápido", lembrou.

Após o casamento de Adrielly e Adalberto, o casal de fotógrafos acrescentou uma nova meta para 2021: "A necessidade de aprender Libras", finalizou.

Fonte: https://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2021/02/09/padre-surpreende-noivos-com-deficiencia-auditiva-e-celebra-casamento-em-libras-em-pe-reflexao-para-a-sociedade.ghtml


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Papa a crianças autistas: como as flores, cada um de nós é belo aos olhos de Deus

 

A delegação do Centro para o Autismo “Sonnenschein”, que na tradução literal significa “Brilho do Sol”, veio da Áustria para encontrar o Papa Francisco nesta segunda-feira (21). O Pontífice, ao se dirigir ao grupo no Vaticano, também encoraja entidades no mundo inteiro empenhadas em cuidar de crianças autistas, que têm "uma beleza única aos olhos de Deus”: “tudo o que vocês fizeram a um só destes pequenos, vocês fizeram a Jesus!”.



“Sejam bem-vindos aqui no Vaticano. Estou feliz em ver o rosto de vocês e leio nos seus olhos que também vocês estão felizes em estar um pouco comigo.”

Assim começou a semana cheia de esperança do Papa Francisco ao receber, no Vaticano, um grupo de crianças, pais e colaboradores provenientes do Centro para o Autismo “Sonnenschein”, da Áustria, que na tradução literal significa “Brilho do Sol”. Na saudação aos pequenos, durante o encontro desta segunda-feira (21), o próprio Pontífice procurou descrever o nome da estrutura:

“Posso imaginar porque os responsáveis escolheram esse nome. Porque a casa de vocês parece um magnífico gramado florido sob o brilho do sol, e as flores desta casa são exatamente vocês! Deus criou o mundo com uma grande variedade de flores, de todas as cores. Cada flor tem sua beleza, que é única. Cada um de nós também é belo aos olhos de Deus, e Ele nos ama. Isso nos faz sentir a necessidade de dizer a Deus: obrigado! Obrigado pelo dom da vida, obrigado por todas as criaturas! Obrigado pela mamãe e papai! Obrigado pelas nossas famílias! E obrigado também por nossos amigos do Centro ‘Sonnenschein’!”

Dizer “obrigado” a Deus, motivou o Papa às crianças, é uma bonita oração, porque Ele gosta dessa forma de rezar. O Pontífice, então, também sugeriu de fazer uma pequena pergunta a Deus:

“Por exemplo: Bom Jesus, poderia ajudar a mamãe e o papai no trabalho deles? Você poderia dar um pouco de conforto à avó que está doente? Poderia dar às crianças de todo o mundo que não têm o que comer? Ou ainda: Jesus, por favor, ajuda o Papa a conduzir bem a Igreja. Se vocês pedirem com fé, o Senhor certamente vai ouvir vocês.”

O autismo no Brasil e no mundo
O Centro para o Autismo “Brilho do Sol” oferece uma gama de atividades terapêuticas com uma equipe de tratamento interdisciplinar formada por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, educadores para necessidades especiais, terapeutas ocupacionais e da música. Assim como a estrutura austríaca, o Brasil também conta com entidades voltadas à atenção das pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) que oferecem um trabalho direcionado com profissionais especializados na área. A Associação Brasileira de Autismo (ABRA) é quem representa nacionalmente as associações e, no site oficial, oferece um elenco atualizado com as afiliadas, distribuídas por localidade.

De acordo com a associação, estima-se que no Brasil existam cerca de 2 milhões de autistas. No mundo, uma em cada 160 crianças tem o TEA e, com base em estudos epidemiológicos realizados nos últimos 50 anos, a prevalência parece estar aumentando globalmente. Embora o transtorno tenha sido identificado há muitos anos, a causa exata do desenvolvimento do autismo – caracterizado por desvios na interação social, comunicação e utilização da imaginação – ainda não foi descoberta, mas estudos indicam que está ligada a questões genéticas e ambientais. O TEA, segundo a Organização Pari-Americana da Saúde (OPAS), começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta.
As crianças autistas e Jesus

O Papa Francisco, ao se despedir do grupo de crianças e adolescentes autistas da Áustria, com as bênçãos de Jesus e a proteção de Nossa Senhora, concluiu o encontro no Vaticano com um agradecimento que também se estende às diversas realidades mundiais:

“Obrigado por essa bela iniciativa e pelo compromisso em benefício dos pequenos que lhes foram confiados. Tudo o que vocês fizeram a um só destes pequenos, vocês fizeram a Jesus!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-09/papa-francisco-criancas-adolescentes-autista-austria-vaticano.html

terça-feira, 5 de maio de 2020

‘Os surdos têm confiança na solicitude de Deus que os faz seguir adiante’

As paróquias da Arquidiocese do Rio de Janeiro onde existe a Pastoral do Surdo, por meio de seus agentes surdos e intérpretes, desde o início da pandemia e, por sua vez, do distanciamento social, vêm mantendo a dinâmica de evangelização e do “encontro” com a fé, com Deus.

Segundo a intérprete da Basílica Imaculado Coração de Maria, no Méier, Margareth Maria Lessa Gonçalves, que também faz parte da equipe de Coordenação dos Intérpretes do Regional Leste 1, estão sendo realizadas transmissões pelo Facebook ou Youtube de missas com a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e elaborados vídeos da liturgia diária e de catequese incorporada à realidade da pandemia e da reza do terço.

“Além da evangelização, os intérpretes têm se esforçado também para atender os surdos no esclarecimento das informações sobre a situação da transmissão e da evolução dos casos de Covid-19, os cuidados com as fake news e ainda sobre os decretos e normas vigentes publicados pelas autoridades sanitárias”, disse.

Uma das paróquias que tem transmitido a missa dominical com a interpretação por meio de Libras é a Paróquia São Francisco Xavier, na Tijuca. A Basílica Imaculado Coração de Maria, no Méier, chegou a transmitir o Tríduo Pascal com o mesmo tipo de interpretação.

De acordo com Margareth Gonçalves, outro modo utilizado foi a interpretação posterior da missa, não ao vivo, na qual o intérprete traduz enquanto assiste a missa e grava em vídeo. Esse recurso em vídeo repassado aos surdos foi usado por um dos intérpretes da Paróquia Bom Jesus da Penha, na Penha.

“Chama a atenção a mobilização dos próprios surdos para sentirem-se unidos em oração, livres do desânimo, para dar testemunho e mostrar a fé que amam e abraçam”, disse.

Margareth Gonçalves acrescentou que os intérpretes têm ajudado na tradução, e podem até participar junto, mas as atividades como catequese, a reza do terço e o estudo e leitura da liturgia têm acontecido por iniciativa e manifestação dos próprios surdos.

Os coordenadores surdos têm ainda motivado seus grupos à participação diária e à disponibilização de links, desde orações, missas ou celebrações do Papa Francisco e de Dom Orani.

“Os surdos estão antenados com toda a Igreja, mesmo quando não há certeza de que haverá interpretação em Libras. Nem todas as celebrações ou eventos transmitidos pelas TVs católicas, apresentam tradução em Libras ou legendas em português. Tudo isso não foi motivo de desestímulo, mas fez os surdos buscarem soluções junto aos intérpretes da pastoral”, disse.

Na opinião de Margareth Gonçalves, esse é o outro lado da quarentena. As dificuldades que vieram com as condições impostas pela pandemia elevaram em mais um nível o isolamento social já vivido há muito tempo.

“Pessoas com deficiência, não só os surdos, já convivem com os efeitos da escassez de recursos e de acessibilidade. Mas, sendo conscientes das dificuldades que excluem, também confiam na graça de Deus que acolhe e propicia alternativas, nas quais acaba gerando solidariedade”, afirmou.
Outro exemplo é o uso obrigatório de máscaras praticado de forma correta pelos surdos, mas que incorpora um empecilho adicional à comunicação já precária com os ouvintes, pois não permite a leitura labial.

“Eles tiveram a ideia de carregar um papel onde gentilmente explicam ser surdos, entendem e aceitam o uso da máscara e pedem para quem precisar falar com eles baixar a máscara ou escrever. Foi o reflexo de quem vive na pele o problema, já que alguns surdos não foram dispensados de seus trabalhos e precisam circular pelas ruas”, enfatizou.

Margareth Gonçalves destacou que toda essa situação está sendo difícil para os surdos, mas certamente eles irão se adaptar a mais essa realidade.

“Os surdos têm confiança na solicitude de Deus que os faz seguir adiante. O Senhor guarda seus filhos e os inspira à presteza. Os surdos conquistam seu espaço social a cada dia, devagar, mas instigados, e aprenderam a seguir adiante, com força e fé”, concluiu.