Roma, 03 de
Setembro de 2014 (Zenit.org) Federico Cenci
Percorrendo os artigos publicados em ZENIT em
uma quinta-feira quente do agosto europeu, me deparei com as declarações do
conhecido biólogo Richard Dawkins, segundo o qual seria "imoral" dar
à luz a crianças com síndrome de Down. Como uma lâmina que atravessa o coração,
as palavras penetram através dos olhos de minha mãe e causam "confusão,
dor e um monte de surpresa". É assim que Mena Dessolis, originária de
Mamoiada, cidade empoleirada no interior da Sardenha, decidiu usar um pouco de
tempo dos seus compromissos diários para escrever à redação o seu testemunho de
mãe de três filhos, dentre os quais, Gabriele, com síndrome de Down.
Não é motivada por nenhuma retórica. O que
ela diz, o faz à luz de uma vida passada com a força e a doçura próprios de
cada mãe. Depois de duas filhas, agora com vinte e poucos anos, Mena teve 14
anos atrás, Gabriele. Ele é o motivo de sua reação ao artigo sobre o
peremptório e imprevidente tweet do cientista britânico. Uma reação carregada
de dor, “porque - disse - não tem a menor consciência do que seja a síndrome de
Down, que sim traz muitas dificuldades, mas 'estranhamente' também muita
riqueza e amor".
Depois de um momento de surpresa, com a
cabeça fria Mena reconhece, porém, que a atitude de Dawkins é só a expressão
mais tristemente sincera de uma cultura generalizada, na qual “ter uma posição,
'ser alguém' são os objetivos de um homem preso na convicção de que o sentido
da vida está no imediato e tangível". Trata-se - acrescenta - "do
engano do homem de hoje e de sempre".
É, portanto, para combater esse engano - de
acordo com Mena - que "é cada vez mais urgente, importante, necessário,
que nós, pais de crianças chamadas "deficientes" dêmos a conhecer
este mundo subterrâneo e que como tal assusta”. Um mundo - diz Mena refletindo
sobre sua experiência - "onde o tempo assume um outro aspecto que não é o
de “morder e correr", da pressa, dos resultados imediatos, que caracteriza
a sociedade".
Um mundo em que é ainda de casa o deixar-se
encantar pela beleza simples de um sorriso. Mena descreve seu filho Gabriele
com “menino radiante, alegre, engraçado, inteligente, forte, excelente
observador, sensível e com um belíssimo sorriso que aquece o coração;
especialmente com uma capacidade de amar sem medida". Afirma francamente,
Mena, que "o que Gabriele consegue dar não é perceptível para um olhar
distraído e apressado". Por esta razão, "no privilégio de ser sua
mãe, descobri um grande tesouro".
O seu testemunho vai além da hipocrisia.
"Claro que, como toda criança, tem dificuldades, muitas dificuldades -
admite -. Para ele, o estudo é mais difícil do que para seus companheiros, tem
diferentes tempos nas diversas atividades de todos os dias”. Mas, "cada
conquista é mais valiosa do que qualquer medalha ganha nos Jogos
Olímpicos". Ser mãe de uma criança com síndrome de Down concedeu a Mena
experimentar a "verdadeira sabedoria", que "não é aquela que faz
você obter as melhores notas na escola ou ter "sucesso" na vida, mas
é a do coração que lhe diz que cada homem é filho de Deus: único, irrepetível,
precioso, importante, com uma vida digna de ser vivida sempre e, com todas as
suas dificuldades, limitações, pontos fortes e fracos".
Ter um filho com síndrome de Down em casa foi
também a ocasião para toda a família para descobrir pessoas extraordinárias
que, de outra forma, teriam permanecido desconhecidas. Pessoas como aquelas que
trabalham na ASL de Nuoro, onde Gabriele fez, durante anos, logopedia,
psicomotricidade e diálogos formativos com uma neuropsiquiatria. Como os
funcionários do Hospital San Raffaele, em Roma, onde, "há vários anos, nós
fomos para um controle de check-up" e onde Mena e seu marido tiveram
encontros com outros pais; oportunidades de intercâmbio e discussão.
"Outra experiência de crescimento - acrescenta ainda Mena - foram as
semanas de verão para famílias com crianças com síndrome de Down organizados abnegadamente
todos os anos pelo prof. Salvatore Lagati".
Mas ser mãe de uma criança com síndrome de
Down ofereceu a Mena também outras coisas, como a capacidade de dissipar
qualquer ressentimento com aqueles que, vítima de um "engano",
escrevem ofensas clicando os teclados de um PC. “Só posso desejar uma coisa à
Richard Dawkins, que um Senhor que não conhece, mas que o conhece muito bem,
possa bater na porta do seu coração (como há anos fez comigo) e que ele queira
abrir-lhe. O resto é inimaginável, também para um cientista... é descobrir um
mundo novo que espera ser encontrado e faz com que a vida se torne digna de ser
vivida, amada e respeitada”. "E há também um último desejo que eu tenho
para o Dawkins: “Que nasça nele o desejo de ter um privilégio: viver um tempo
junto com um dos muitos Gabriele espalhados pelo mundo”.
Perfeito!
ResponderExcluir